Cantinho que visa, dar asas à minha imaginação e deixar que meu ser se apresente em liberdade de expressão...
Que me seja permitido sonhar, imaginar, fantasiar, de forma a tornar a vida mais mágica...
Quero escrever sem amarras...de todas as formas possiveis...
Bem haja quem quiser acompanhar meu percurso, de aprendiz.
O Entardecer aproxima-se
lentamente. Caminho naquele jardim cerrado de pinheiros e atapetado de rosas
vermelhas. Nada se sente! Nada se ouve! Apenas o sopro suave
do vento que arrasta para longe, os últimos restos do dia.
Meus passos cansados levam-me para junto do nosso
banco.
Meu olhar patético e abstracto olha o infinito.
Lágrimas se desprendem de meus olhos, caindo em catadupa pelo meu rosto. Uma
angústia se apodera de mim e, mais do que nunca, sinto à minha volta o gosto
amargo da solidão.
Penso em ti, e um frio gélido percorre meu corpo
entorpecido, fazendo-o estremecer. Numa recordação obstinada vejo teus olhos
castanhos. Tão castanhos, tão doces, tão brilhantes!
Olhos que quando me olhavam traziam consigo amor e
ternura…Como sinto falta desse olhar! Tão diferente de todos os outros, tão
raro, meu Deus!
Regresso ao passado e recordo um dia frio de janeiro.
Era uma jovem, quase, uma criança. Ao ler um telegrama julgo enlouquecer de
dor. É a angústia da separação irreversível que me atormenta. A inevitável
separação, separação maldita que me roubou aquele que acreditava, ser o único
amor da minha vida.
Depois, uma a uma, imagens sombrias, dos dias
seguintes, se sucedem, em meu pensamento.
Vejo-me então, vestida de negro, cabisbaixa, com o
rosto vincado pela dor pungente, pela perda de um ser amado.
Lembro-me que, com passos incertos, me dirigi,
novamente, àquele pequeno jardim, onde tinha estado, pela última vez, com o ser
que tanto amei, talvez, na vã esperança de ali o reencontrar. Falsa, desgraçada
ilusão!
Em pensamento, ainda, senti tua imagem a meu lado.
Imagem que o destino cruelmente me retirou sem retorno.
De repente, movida por uma ânsia enlouquecedora
quis gritar. Mas, meu grito, mais não foi que um eco surdo e estrangulado.
Então, chorei, lágrimas de saudade e desespero.
Com gestos autómatos, decidida, arranquei uma rosa
vermelha, semelhante àquela que, outrora me deste com um bilhete que dizia: “
Viverás eternamente em meu coração, ainda que com espinhos como essa rosa…”
Esse momento ficou, para sempre, guardado na minha
memória.
De súbito, regresso à realidade e vejo uma rosa
vermelha em minha mão, regada por minhas lágrimas, símbolo, da paixão, do amor,
da vida e da morte…
Depois desse dia, muito tempo passou. Hoje, quando
passo naquele jardim, meus olhos ainda se prendem hipnotizados, àquelas rosas
vermelhas, símbolo efusivo dum amor que acalentei. Porém ao olhá-las, já não
sofro, encontro apenas uma paz nostálgica.
Agora, não sei se por castigo, por recompensa uma
outra imagem se sucede de uns olhos também castanhos. Uns olhos castanhos
penetram na minha alma – são os teus …
Tão iguais e tão diferentes!
Uma voz rompe a solidão que reinava no jardim,
quebrando o fio de meu pensamento, relativo a um passado vivido e um futuro
incerto, com um ser de olhos castanhos.
Uma voz melodiosa de criança, canta suavemente,
com sua voz inocente, uma história de encantar. Um sorriso melancólico se
desenha em meus lábios, sua voz ecoa em meu espírito. Desejo juntar meu canto
ao seu, mas a comoção embarga minha voz…
Fecho os olhos para, de imediato os abrir.
Então, caminho decidida, deixando atrás de mim,
aquele jardim para sempre, porque o que dele fica está no meu coração, para ir
ao teu encontro.
Sim, abraçar-te, beijar-te a ti, meu amor, de olhos
castanhos.