A noite está negra como a morte,
Nela caminho alheia à minha sorte.
O frio paralisa meu corpo,
Não consigo avançar,
Meu coração de forma ardente, parece gelar.
Olha à minha volta, sinto-me agoniada,
Sigo em frente, mas deixei de ver a estrada.
A luz que me conduzia, me incendiava
Com uma rajada de vento, foi apagada.
Não há medo, nem fobia, estou perdida,
Meu coração gela, e bate de forma sentida.
A angustia se possessa de mim,
Exausta, exangue, sento-me no banco do jardim.
Fecho os olhos, deixo a lágrima cair,
Nada faço, compreendo seu sentir.
Recorda um passado, que a está ferir.
Ouço um eco ao longe.
- Não te deixes cair…
Alucinação!
Meu ser estarrecido,
Levanta-se imperioso,
Põe-se em sentido.
Segue à deriva,
Deixa para trás um mundo esquecido.
Persegue um presente de dor empedernido.
Ignora o futuro, agora já sem sentido.
21 de Novembro de 2010
Alcina Moreira
Hoje,
ResponderEliminarserá o fim!
Hoje
nem este falso silêncio
dos meus gestos malogrados
debruçando-se
sobre os meus ombros nus
e esmagados!
Nem o luar, pano baço de cenário velho,
escutando
a minha prisão de viver
a lição que me ditavam:
- Menino! acende uma vela na tua vida,
que o sol, a luz e o ar
são perfumes de pecado.
Tem braços longos e tentadores – o dia!
- Menino! recolhe-te na sombra do meu regaço
que teus pés
são feitos de barro e cansaço!
(Era esta a voz do papão
pintado de belo
na máscara de papelão).
Eram inúteis e magoadas as noites da minha rua...
Noites de lua
que lembravam as grilhetas
da minha vida parada.
- Amanhã,
terás os mestres, as aulas, os amigos e os livros
e o espectáculo da morgue
morando durante dias
nos teus sentidos gorados.
Amanhã,
será o ultrapassar outra curva
no teu caminho destinado.
(Era esta a voz do papão
que acendia a vela, tinha regaço de sombra
e velava
as noites da minha rua e a minha vida
e pintava-se de belo
na máscara de papelão).
Hoje,
será o fim!
Hoje,
nem a sombra do que há-de vir,
nem os mestres, nem os amigos, nem os livros,
nem a fragilidade dos meus pés
feitos de barro e cansaço!
Todas as minhas revoltas domadas,
todos os meus gestos em meio
e as minhas palavras sufocadas
terão a sua hora de viver e amar!
Hoje,
nem o cadáver a sorrir na morgue,
nem as mãos que ficaram angustiosas,
arrepiadas
no seu medo de findar!
Hoje,
será a mais bela noite do mundo!
Fernando Namora, in 'Mar de Sargaços