segunda-feira, 4 de junho de 2012

Na Noite...



A noite está negra como a morte,
Nela caminho alheia à minha sorte.
O frio paralisa meu corpo,
Não consigo avançar,
Meu coração de forma ardente, parece gelar.
Olha à minha volta, sinto-me agoniada,
Sigo em frente, mas deixei de ver a estrada.
A luz que me conduzia, me incendiava
Com uma rajada de vento, foi apagada.
Não há medo, nem fobia, estou perdida,
Meu coração gela, e bate de forma sentida.
A angustia se possessa de mim,
Exausta, exangue, sento-me no banco do jardim.
Fecho os olhos, deixo a lágrima cair,
Nada faço, compreendo seu sentir.
Recorda um passado, que a está ferir.
Ouço um eco ao longe.
- Não te deixes cair…
Alucinação!
Meu ser estarrecido,
Levanta-se imperioso,
Põe-se em sentido.
Segue à deriva,
Deixa para trás um mundo esquecido.
Persegue um presente de dor empedernido.
Ignora o futuro, agora já sem sentido.

21 de Novembro de 2010

Alcina Moreira

1 comentário:

  1. Hoje,
    será o fim!

    Hoje
    nem este falso silêncio
    dos meus gestos malogrados
    debruçando-se
    sobre os meus ombros nus
    e esmagados!

    Nem o luar, pano baço de cenário velho,
    escutando
    a minha prisão de viver
    a lição que me ditavam:
    - Menino! acende uma vela na tua vida,
    que o sol, a luz e o ar
    são perfumes de pecado.
    Tem braços longos e tentadores – o dia!

    - Menino! recolhe-te na sombra do meu regaço
    que teus pés
    são feitos de barro e cansaço!

    (Era esta a voz do papão
    pintado de belo
    na máscara de papelão).

    Eram inúteis e magoadas as noites da minha rua...
    Noites de lua
    que lembravam as grilhetas
    da minha vida parada.

    - Amanhã,
    terás os mestres, as aulas, os amigos e os livros
    e o espectáculo da morgue
    morando durante dias
    nos teus sentidos gorados.

    Amanhã,
    será o ultrapassar outra curva
    no teu caminho destinado.

    (Era esta a voz do papão
    que acendia a vela, tinha regaço de sombra
    e velava
    as noites da minha rua e a minha vida
    e pintava-se de belo
    na máscara de papelão).

    Hoje,
    será o fim!

    Hoje,
    nem a sombra do que há-de vir,
    nem os mestres, nem os amigos, nem os livros,
    nem a fragilidade dos meus pés
    feitos de barro e cansaço!
    Todas as minhas revoltas domadas,
    todos os meus gestos em meio
    e as minhas palavras sufocadas
    terão a sua hora de viver e amar!

    Hoje,
    nem o cadáver a sorrir na morgue,
    nem as mãos que ficaram angustiosas,
    arrepiadas
    no seu medo de findar!

    Hoje,
    será a mais bela noite do mundo!

    Fernando Namora, in 'Mar de Sargaços

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