segunda-feira, 26 de março de 2012

Sonhei que tinha sonhado

2 comentários:

  1. Pergunto ao vento que passa
    notícias do meu país
    e o vento cala a desgraça
    o vento nada me diz.
    Pergunto aos rios que levam
    tanto sonho à flor das águas
    e os rios não me sossegam
    levam sonhos deixam mágoas.
    Levam sonhos deixam mágoas
    ai rios do meu país
    minha pátria à flor das águas
    para onde vais? Ninguém diz.
    Se o verde trevo desfolhas
    pede notícias e diz
    ao trevo de quatro folhas
    que morro por meu país.
    Pergunto à gente que passa
    por que vai de olhos no chão.
    Silêncio – é tudo o que tem
    quem vive na servidão.
    Vi florir os verdes ramos
    direitos e ao céu voltados.
    E a quem gosta de ter amos
    vi sempre os ombros curvados.
    E o vento não me diz nada
    ninguém diz nada de novo.
    Vi minha pátria pregada
    nos braços em cruz do povo.
    Vi minha pátria na margem
    dos rios que vão pró mar
    como quem ama a viagem
    mas tem sempre de ficar.
    Vi navios a partir
    (minha pátria à flor das águas)
    vi minha pátria florir
    (verdes folhas verdes mágoas).
    Há quem te queira ignorada
    e fale pátria em teu nome.
    Eu vi-te crucificada
    nos braços negros da fome.
    E o vento não me diz nada
    só o silêncio persiste.
    Vi minha pátria parada
    à beira de um rio triste.
    Ninguém diz nada de novo
    se notícias vou pedindo
    nas mãos vazias do povo
    vi minha pátria florindo.
    E a noite cresce por dentro
    dos homens do meu país.
    Peço notícias ao vento
    e o vento nada me diz.
    Mas há sempre uma candeia
    dentro da própria desgraça
    há sempre alguém que semeia
    canções no vento que passa.
    Mesmo na noite mais triste
    em tempo de servidão
    há sempre alguém que resiste
    há sempre alguém que diz não.
    Manuel Alegre

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  2. Obrigada António!

    Gostei de recordar este poema de Manuel Alegre!

    Beijinho

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